O que é recaída? Esta pergunta não é fácil de ser respondida como parece. Para conseguir uma resposta precisa, vamos examinar como o conceito de recaída se desenvolveu historicamente.
Nos primeiros dias do A.A., no meio da década de trinta, os alcoólicos eram considerados como recaídos quando voltavam a beber novamente. Recaída definia-se simplesmente como uma volta ao uso do álcool. Como os alcoólicos começaram a usar drogas substituindo a bebida, se tornaram conscientes de que alcoólicos não podem usar qualquer droga sedativa com segurança. Álcool é uma droga sedativa e agora se sabe que qualquer droga sedativa tem efeito no corpo, similar ao álcool. De fato, alguns profissionais começaram a usar o termo “sedativismo” em vez de “alcoolismo” porque o problema não é o álcool, mas a reação do corpo a drogas sedativas.
Assim, recaída começou a significar o uso de qualquer droga calmante (incluindo o álcool). Com o uso comum de uma variedade de drogas nos anos 60, algumas pessoas começaram a perceber que qualquer droga alteradora do humor poderia levar a recaída. Drogas como anfetaminas, maconha, cocaína, ou LSD, têm efeito no corpo diferentemente das drogas calmantes. Mas também mudam o estado mental e emocional e prejudicam o julgamento, fazendo com que sinta-se bem agora, mas causando dores, levando a obsessão, compulsão e perda de controle mais tarde. Abusar de qualquer droga ou combinação delas, logo causará danos físicos, psicológicos e sociais. Ficou claro que qualquer droga alteradora do humor pode reativar o ciclo da adicção. Como resultado deste novo conhecimento, os alcoólicos começaram a pensar em recaída como o uso de qualquer droga alteradora do humor (lembre-se de que o álcool é uma droga que altera o humor).
A DEFINIÇÃO DE RECAÍDA MUDOU DE:
USO DE ALCOOL
PARA:
USO DE QUALQUER DROGA CALMANTE
PARA:
USO DE QUALQUER DROGA QUE ALTERE O HUMOR
Embora pensando em recaída como uma volta ao uso do álcool ou drogas, muitos profissionais e membros do A.A. Sempre reconheceram que para se recuperar não basta apenas parar com o uso.
Somente o primeiro passo menciona álcool. Os outros passos falam como viver sóbrio. Ao invés de olhar “não beber”, o foco é aprender a viver efetivamente e confortavelmente sem o uso de adictivos. Isto nos leva ao conceito de que recaída tem muito a ver com o modo que o indivíduo funciona e não se ele está usando álcool ou drogas. Não usar álcool ou drogas é um pré-requisito para a recuperação.
Pensando assim, o processo de recaída inclui tornar-se disfuncional na sobriedade. Esta disfunção pode envolver a saúde física, psicológica e social. Isto não quer dizer que o uso do químico não é recaída, mas o processo de recaída está acontecendo antes de começar o uso. Quando o uso de drogas começa, é o resultado do processo que já está acontecendo. O uso do químico é uma maneira de medicar a dor da disfunção. A disfunção começa com um processo mental que em A.A. se chama “pensar abobrinha”. Que leva a uma mudança no comportamento que o A.A. chama de “acompanhamento”. Finalmente leva a uma mudança de comportamento que leva a um comportamento disfuncional na sobriedade que no A.A. Chama-se “bêbado seco”. Esta bebedeira seca pode levar ao uso do químico ou qualquer outra disfunção séria como distúrbio emocional, colapso físico ou alguma doença relacionada ao stress. Muitos alcoólicos ficaram livres das drogas, mas cometeram suicídio ou tiveram um colapso físico ou emocional. Isto não é recuperação. O conceito do processo de recaída somente como o uso da bebida ou drogas evita o tratamento dos sintomas baseados na sobriedade da adicção. Muitos sintomas na sobriedade do alcoolismo e da dependência química foram ignorados ou mal interpretados como problemas psicológicos ou psiquiátricos.
Depressão, confusão e ansiedade que surgem como sintomas de síndrome da abstinência aguda e demorada não são muitas vezes reconhecidos como sintomas da adicção. Assim, um tratamento apropriado para eles não é procurado, oferecido ou encorajado. Muitas pessoas em recuperação sofrem com estes problemas relacionados à adicção, e são encaminhados a psicólogos ou psiquiatras que sabem muito pouco ou nada sobre a doença adictiva, causadora dos problemas. Com o aumento do entendimento do processo de recaída, o foco da vida não é “apenas usar ou não usar.”
Está na recuperação dos danos causados pela adicção, aprender a lidar com os sintomas, baseados na sobriedade e em melhorar a saúde física, psicológica e social. Isto permite que a vida seja centrada numa vida saudável, sem álcool ou drogas. Isto encoraja a aprender a reconhecer os sinais de aviso iniciais de recaída, antes de ser forçado a começar o uso de adictivos num esforço para se livrar destes sintomas. Se o uso de químicos fosse o único indicador de recaída, o simples fato de estar abstinente faria acreditar que está tudo bem.
Não ficar preocupado com outras situações na vida, que podem ser tão sérias como beber. Negligenciar estas áreas importantes da vida podem ser danosas para sua recuperação.