31 December 2009

Diferença entre a interpretação exegética e a interpretação espiritual

Oswald Chambers

Há uma diferença entre a interpretação exegética e a interpretação espiritual. O perigo da interpretação espiritual é que nós interpretamos à luz de nossa própria experiência, conseqüentemente poderá haver muitas interpretações.

Quando tratamos dessas visões proféticas lidamos com algo que nunca lidamos antes. A mente moderna não diria que haja alguma coisa sobrenatural nas visões; a razão para isso é um preconceito inveterado contra o sobrenatural; uma suspeição que não permite que a Mente de Deus seja outra que a mente do homem. A grande Mente inspiradora por trás dos profetas e dos apóstolos não era uma mente humana inteligente, mas a mente do Deus Poderoso. “Pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo."

O espírito do homem é sua personalidade, sua alma é aquela personalidade tentando expressar-se em idéias e palavras racionais. O Espírito de Deus atuando nos profetas e nos apóstolos toma as idéias que formaram pelo contacto com o mundo e as traz a uma nova combinação da qual apenas Deus é o autor. . É por isso que a expressão não é a mesma; a individualidade é marcada; por exemplo, Isaias é diferente de Ezequiel, João de Paulo; há uma mesma Mente por trás, mas não as mesmas idéias.

Nunca imagine que os profetas tiveram um plano perfeitamente claro a respeito do que profetizaram; o Espírito de Deus os fez profetizarem infinitamente mais do que saiam. Nós sabemos muito do Novo Testamento que os profetas nada conheciam. Os profetas falaram com todo o sangue e paixão se suas naturezas; eles não se mostram como uma autoridade superior, eles estavam envolvidos em suas profecias. Note a identificação dos profetas com a vida de sua época. Nós vestimos nossa roupa espiritual de acordo com a vida da época na qual vivemos. Aqueles homens não, eles permaneceram ao lado de Deus em todas as circunstâncias; os profetas pré-figuraram Jesus Cristo de forma ainda mais maravilhosa que o ritual do Antigo Testamento.

A Bíblia é o registro dos fatos que realmente aconteceram e o Espírito de Deus os torna o símbolo de algo mais além daquilo que apenas discernimos quando nos confiamos a Ele. Nossa própria vida ilustra isso, quando olhamos para trás e percebemos que os incidentes conectavam-se por uma Mão por trás. Nós imaginamos que se pudéssemos ordenar a história de nossas vidas de acordo com um sistema matemático todas as coisas dariam certo, mas a providência de Deus vira nossas vidas de pernas para o ar e nossos caminhos parecem-nos torcidos. A razão é que Ele está realizando Seu propósito de Sua própria maneira. Deixe sua vida sozinha; você não altera a história e não pode alterar a vida; cuide de manter uma atitude correta com Deus, deixe cumprir-se aquela vontade. O que somos capazes de chamar de interrupções são as formas de Deus apresentar-nos um novo conhecimento de Si mesmo.

Deus nunca nos fará segui-lo cegamente, ele não nos surpreenderá, ele não nos cegará com repentinos fachos de luz. Ele partirá Sua revelação pedaço por pedaço para que possamos aceitá-la. O apelo feito por Jesus Cristo é Seu caráter, Sua verdade e Sua beleza, e a consciência de todo homem dirá quando O vir: Este Homem está certo. Não há nada de supersticioso. O poder sobrenatural de Satanás nunca arrazoa, ele apela para as superstições do homem, não para sua consciência.

Quando começamos nosso trabalho para Deus há uma quantidade de dureza rude e crua para conosco e nós temos a palavra de Deus para isso, mas lentamente e seguramente através da disciplina da vida começamos a chegar a outros aspectos daquelas mesmas afirmações. Quando nós entendermos como Deus está lidando conosco, Ele nos conduz para onde podemos entender Seu modo de lidar com o mundo lá fora.

Chambers, Oswald: Notes on Isaiah. Marshall Morgan and Scott, 1958; 2002